7 Classificação
Versão 0.0.14 - 14/12/2025
Estejamos ainda na história ou já numa pós- ou hiperhistória, e por debaixo dos usos atuais da palavra ocidental “Informação” tanto coloquiais quanto técnicos, há uma grande divergência terminológica e conceitual digna de nota.
Não há consenso sobre como conceituar Informação de maneira abrangente. O que existem são acepções majoritárias que acabam por obliterar outros entendimentos. Quero criticá-las sem cair no erro de com isso reforçá-las em suas posições atuais. Assim, primeiro exaltarei a polissemia do termo, para então focar na denúncia de como um entendimento específico e afunilado sobre Informação, porém majoritário, está associado às grandes mazelas em andamento.
Infelizmente, até o momento só consegui me debruçar na tradição ocidental e eurocêntrica. Mesmo com essa restrição já é possível encontrar muita diversidade.
7.1 Polimorfia
Na sua trajetória histórica ocidental, a palavra informação foi usada para traduzir diversos conceitos ligados à ação de um agente dando forma a algo passivo/latente, com diversas intenções e conotações. Se pensarmos então em dar forma à própria palavra que trata sobre o que dá e o que recebe forma, constatamos que a palavra informação é antes de tudo polimorfa86:
Information is notoriously a polymorphic phenomenon and a polysemantic concept so, as an explicandum, it can be associated with several explanations, depending on the level of abstraction adopted and the cluster of requirements and desiderata orientating a theory. […] schematic simplifications and interpretative decisions will be inevitable.
Tanto forma quanto informação são polissêmicas e contém uma grande quantidade de significados.
Informação, a palavra que exprime formações intensas, trata de “formas”, “configurações”, em todas as suas potencialidades e atualidades. Todas as morfias são por ela contemplados. Sendo então um termo polimórfico pelo que designa.
O termo informação também é polimórfico por si mesmo, porque ele é informado externamente, e não admite um único significado. Seus sentidos convergem e divergem. Existem muitas formas de designar formações intensas, e existem significações que não tratam da “formação intensa”, mas de outras interpretações.
Não é possível unificar todos os conceitos de informação em um único, nem mesmo naqueles que sigam uma fórmula deleuze-guatarriana do tipo “… E … E … E … E …” (exemplo: “… informação é isso E aquilo E aquilo também…), pois mesmo nesse caso a fórmula não consegue conter a sua própria negação.
Importante não deixar que o conceito de informação tome conta de toda a filosofia.
7.2 Polivalência
Há um paradoxo, ou ironia, dos múltiplos conceitos de informação, que não informam a respeito de um único conceito, um único significado. Talvez mais do que qualquer outro conceito, exceto provavelmente pelo de democracia87:
Chalmers (1999, pp. 104-105) […]
[…] For instance, I think it will be agreed that the Newtonian concept of mass has a more precise meaning than the concept of democracy, say. It is plausible to suggest that the reason for the relatively precise meaning of the former stems from the fact that the concept plays a specific, well-defined role in a precise, closely-knit theory, Newtonian mechanics. By contrast, the social theories in which the concept democracy occurs are vague and multifarious. […]
Se um conceito não converge num único significado, pode haver controvérsia, disputa histórica ou a divergência do termo é explicada pela sua polivalência e aplicabilidade em diversos campos e situações. Deixaremos para outra oportunidade as controvérsias e concepções antagônicas em torno do termo democracia, e por agora trataremos das existentes no termo informação.
A situação recente do conceito de informação é tão confusa que não há, até onde encontrei, nem ao menos uma classificação convergente de todas as formulações. Indico algumas delas na Seção 24.
7.3 Transmorfia
Em toda sua história no ocidente, o conceito de informação também tem um quê de transmorfo que parece perpassar todas essas classificações, se considerarmos trans como aquilo que muda e perpassa.
Transformação seria o processo de mudança de forma. Sendo intensa, constituiria uma re-informação. Parece ter havido transformação nos diversos conceitos de informação, inclusive nos contra- ou anti-hegemônicos, especialmente nos últimos 200 anos. Aqui continuaremos focando no conceito mais hegemônico, que será objeto de crítica na próxima seção.
Do Ignismo ao Explodismo, esta Informação majoritária sai do ser “formador” (deixando de ser transcendente), sai dos corpos (deixando de ser sensível) e perde os sentidos (deixando de significar). Desencarnada, desacoplada e re-caracterizada. Deixa de ser um processo ligando as formas metafísicas do além com a matéria do mundo para ser considerada o próprio substrato infraestrutural da physis. As formas deixam de ser platônicas sem nunca terem deixado de sê-las. Perdendo a transcendência, ela ganha transcendência. Deixando de fazer parte do sensível, ela passa a ser percebida em todo lugar. Deixando de significar, ela passa a fazer sentido em si própria. Informação invariavelmente continua sendo mística e mistificadora.
Este acaba sendo um retorno à Platão por outros meios: informação como e sobre aquilo que não é possível acessar diretamente pela experiência sensível. Parafraseando Whitehead, seria como dizer que a filosofia dita Ocidental da informação não passaria de uma série de notas marginais da obra de Platão88.
Na trajetória da palavra informação, parece haver um tendencial aumento de abstração simultaneamente a uma compressão de significados89.
Informação parece um conceito simultaneamente alienado de seu processo genealógico e extremamente capaz de alienar outros processos ao reformulá-los em termos informacionais. Informação como alienação de tudo, inclusive de si própria.
References
Isso pode ser constadado desde suas origens gregas: em typto, há transformação a partir da ação de martelar etc para a coisa martelada, o que é consolidado em typo; e em morphé, eidos e idea, com o agrupamento de seres a partir de sua aparência, extraindo um “comum” como sendo uma “imagem” original a partir da qual todos teriam sido moldados, fabricados, confeccionados, derivados etc.↩︎